Um exemplo de como cada paciente é único e deve ter seu atendimento adequado a sua situação
O caso que trago neste post é extremamente interessante e difícil de ser visto e realizado: um paciente apresentou fratura da coluna torácica, no nível da T12, devido a um acidente de carro que sofreu há algum tempo. Por sua idade avançada, seu tratamento foi conduzido de forma conservadora (sem cirurgia).
Infelizmente, ao longo do tempo a condição dele evoluiu para cifotização da intersecção da coluna torácica com a lombar, que é quando a vértebra acunha (entorta, perde altura e deixa de realizar sua função), fazendo com que o paciente ficasse “quebrado ao meio” e com o tronco jogado para a frente. O quadro acarretava dores excruciantes que impediam a locomoção e a caminhada.
Após análise detalhada do quadro e realização de exame de medicina nuclear (cintilografia óssea), identificamos ausência de consolidação no foco da fratura, ou seja, o osso não foi cicatrizado, mesmo após tanto tempo do acidente. Dessa forma, todo o quadro clínico do paciente foi justificado. Optamos, então, por intervenção cirúrgica para a correção tanto da fratura não consolidada quanto da deformidade, causada pela própria fratura.
Casos como este, de extrema gravidade, geralmente necessitam de abordagens agressivas e extensas, mas que permitam a correção da deformidade e garantam um melhor resultado a longo prazo.
Procedimento cirúrgico com retirada da vértebra e reconstrução
Com todas as análises em mãos, optamos por iniciar com uma abordagem látero-posterior, com ressecção da 12ª costela para abordagem da vértebra. Na sequência, realizamos corpectomia total, retirada de todo o corpo vertebral, e substituição por uma prótese de distração, que age semelhante a um macaco de automóvel. Essa abordagem permitiu a elevação e reconstrução da altura do corpo vertebral, o realinhamento da coluna e a fixação anterior com placa e parafusos de altíssima tecnologia.
Posteriormente, mas ainda no mesmo tempo cirúrgico, o paciente foi virado para abordagem convencional posterior para a descompressão da medula e fixação da coluna com parafusos pediculares e barras de cromo e cobalto, sendo estas barras mais resistentes do que o titânio, material dos parafusos. Todas as medidas permitiram alinhar novamente o paciente, tanto no plano coronal (de frente) quanto no plano sagital (dos lados).
Hoje, com pouco mais de 10 dias de pós-operatório, o paciente caminha normalmente e apresenta melhora importante do alinhamento da coluna. As dores são provenientes do próprio procedimento cirúrgico. Sendo realistas, acreditamos que ele deve se recuperar totalmente em um período de quatro a seis meses.
Agradeço a Deus por me qualificar para ajudar pacientes como estes, de um caso extremamente atípico e complexo que, felizmente, teve uma solução satisfatória.
Para você, querido leitor, deixo a mensagem: mediante dor ou desconforto na coluna, procure atendimento precoce com um especialista, para a manutenção não só da saúde da sua coluna, mas sim da saúde em geral.
Abraços,
Dr. André Evaristo Marcondes
São Paulo, 14 de outubro de 2020
Comments