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Mielopatia cervical com grave compressão medular


Compartilho hoje um caso extremamente grave e complexo de uma patologia conhecida como mielopatia cervical. Você me acompanha neste relato?


Conheça esta patologia


Neste caso, severos graus de compressão da medula são desencadeados, tanto pela presença de hérnia de disco (explosão do disco intervertebral), como outros fatores associados, entre eles: espaçamento de ligamento longitudinal posterior e ligamento amarelo, hipertrofia das articulações, diminuição do canal medular e da saída das raízes foraminais, desvio importante da coluna cervical com inversão da lordose cervical habitual, além de escoliose segmentar e severa instabilidade em múltiplos níveis.

Este quadro é de extrema gravidade e acaba desencadeando, além de dor cervical com irradiação para membros superiores, quadro de lesão medular rapidamente progressiva, tanto pela lesão direta da medula pelos fatores compressivos acima descritos, como pela compressão da artéria espinhal anterior e das artérias espinhais posteriores, prejudicando a irrigação do tecido neurológico e o consequente "infarto medular", acarretando lesão neurológica grave e na maioria das vezes irreversível.


Detalhes sobre este caso complexo


Paciente deu entrada em nosso serviço com sintomas de cervicalgia (dor cervical) intratável e excruciante com irradiação intolerável para membros superiores, além de importantes alterações neurológicas, entre elas: perda de força em membro superior direito, perda de força e sensibilidade no membro superior esquerdo, com grave alteração da coordenação motora e da realização de movimentos finos em mãos, além de alteração de equilíbrio, marcha mielopática com dificuldade de deambulação, chegando muito próximo do quadro de tetraplegia.


Procedimento cirúrgico


Casos como esse sempre são dramáticos e envolvem procedimentos de altíssima complexidade e risco, sendo sempre necessária a tomada de medidas extremas como a vista nesse caso. Para a resolução das dores foi decidido por descompressão medular e artrodese dos segmentos de C3 a C7, com retirada do disco intervertebral de C3-C4 e estabilização desse segmento com pequeno CAGE lordótico em C3-C4, no entanto, com realização de medida salvadora de altíssima complexidade para ressecção de todo o corpo vertebral de C5 e C6 (retirada total do corpo vertebral para descompressão medular agressiva, permitindo desobstrução das artérias previamente comprimidas e retorno do fluxo sanguíneo normal).


Este é um tipo de procedimento que é tecnicamente difícil de ser realizado em um nível, imagine ser realizado em dois níveis e ainda necessitando de prótese de substituição de corpo intervertebral de altíssima tecnologia e custo para substituir o corpo intervertebral previamente ressecado e, desta forma, melhorar o alinhamento cervical e permitir a melhor reconstrução possível dentro da gravidade da patologia apresentada.


Saiba mais sobre a doença


Montagens tão complexas, que envolvem ressecção do disco intervertebral com colocação de CAGE intersomático, ressecção de dois corpos intervertebrais por interposição do espaço com prótese para a substituição de corpo vertebral de altíssima tecnologia, além de fixação anterior com placa altamente resistente e com especificações técnicas que permitam a fixação adequada geralmente possuem o procedimento complementado por uma segunda cirurgia que pode ser realizada no mesmo tempo cirúrgico ou poucos dias depois, sendo esta segunda abordagem feita por via posterior para a colocação de parafusos de massa lateral (parafusos semelhantes ao utilizado na coluna lombar) e a estabilização desses parafusos com hastes e porcas, aumentando a rigidez da montagem e facilitando a consolidação do segmento operado.


No entanto, no caso em questão, tendo em vista que a paciente apresentou estudo ósseo pré-operatório e qualidade óssea satisfatória, além de evoluir de maneira adequada durante o procedimento, foi decidido por nossa equipe, como fazemos sempre que possível, abordagem isolada por via anterior, onde além da paciente não necessitar de um segundo procedimento é não destruída e dissecada a musculatura paravertebral posterior.


Quando consegue-se abordagem única e exclusiva por via anterior em coluna cervical (como em coluna lombar) a não lesão muscular diminui enormemente o tempo de recuperação, melhora os resultados clínicos, tanto a curto quanto a longo prazo, além de diminuir o risco dos pacientes desenvolverem desequilíbrio cervical por fraqueza muscular e dor crônica complexa e intratável.

Desta forma, conseguir resolver esse caso apenas por via anterior se mostrou ainda mais gratificante do que a resolução por dupla do que de certa maneira seria o método tradicional para resolver um caso dessa complexidade.


Agradecimentos

Por todas as dificuldades técnicas acima citadas, agradeço a Deus e a toda minha equipe pela honra de poder ser um fator positivo na vida dos pacientes que me procuram, tendo plena consciência que Deus muitas vezes realiza obras muito maiores do que a minha capacidade médica e técnica puramente seriam capazes de realizar; salientando que nós, médicos, não passamos de instrumentos de forças superiores.

Abraços,


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