Descubra como um tratamento convencional pode ser a melhor opção para uma paciente de 84 anos.
Você que me acompanha sabe que, por vezes, apontei a importância de novas técnicas e abordagens mais modernas, em especial mais anatômicas, com o objetivo de restaurar as estruturas da coluna lesada. Sobretudo com a menor agressão possível, tanto da coluna quanto das partes moles, que são os músculos, vasos, tecidos e órgãos que precisamos interferir para chegar na coluna.
Por outro lado, já reforcei também a importância de procedimentos convencionais, como os casos de artrodese, especialmente para pacientes selecionados, com indicação muito mais pormenorizada, e em pacientes de mais idade.
Com o objetivo de ressaltar a importância que a artrodese ainda tem no tratamento de patologias mais graves, trago o caso desta paciente de 84 anos, extremamente ativa e praticante de atividade física diária (o que mostra que a idade cronológica não tem relação direta com a idade real nos dias de hoje), mas que sofria com estenose de canal, ou seja, um estreitamento do canal que contém a medula e os nervos (a hérnia de disco do paciente jovem associado ao desgaste da coluna do paciente idoso). Este quadro acarretou forte degeneração do segmento e uma gravíssima compressão medular.
Devido a isso, a paciente sofria com dores excruciantes, com irradiação para membros inferiores. Também teve alteração na forma de andar, que é quando a pessoa passa a mancar e chamamos de marcha claudicante. Para completar, perdeu a sensibilidade do joelho para baixo nas duas pernas.
Uma triste condição que limitava seus movimentos. Em qualquer idade essa combinação de elementos pode trazer grande sofrimento, mas para os idosos pode ter um pouco mais de peso, principalmente no aspecto emocional que pode ser afetado de forma significativa.
Pensando em todos os aspectos para esta paciente, optamos por realizar uma artrodese com abordagem inicial anterior (abertura do abdômen), para retirada de todo o disco intervertebral e colocação de suporte anterior tipo ALIF (Anterior Lumbar Interbody Fusion). No mesmo tempo cirúrgico realizamos, por via posterior, a fixação com parafuso pedicular, barras e ampla descompressão posterior.
A sustentação promovida pelo suporte ALIF é extremamente importante nessa faixa etária, devido a presença de osso osteoporótico, ou seja, enfraquecido, passível de quebrar. Assim, aumentamos a rigidez da montagem e diminuímos o risco de complicação. A retirada do disco e a fixação do parafuso pedicular permitiu a descompressão da medula e trouxe alívio total do quadro de dor lombar e ciática. A estimativa é que evolua de maneira satisfatória, com uma melhora de 80 a 90% do quadro, em relação ao pré operatório, num período de 90 dias a seis meses.
As duas primeiras fotos se referem ao pós-operatório em relação a imagens de raio x. As demais imagens são de tomografia da região operada, mostrando tanto o bom posicionamento do implante quanto a descompressão retirada da tampa posterior, para descompressão da medula e o exemplo de como são posicionados os famosos parafusos pediculares.
Artrodese para a coluna lombar
Com esse texto quero ressaltar, em primeiro lugar, que idade não é um impeditivo para tratamento cirúrgico e desejo de melhora na qualidade de vida, muito pelo contrário: quanto maior a idade, muitas vezes maior a necessidade de abordagens desse tipo.
Em segundo lugar ressaltar que, mesmo com técnicas mais modernas, a artrodese convencional, em especial com abordagem por dupla via, ainda tem um papel importante no tratamento das patologias da coluna.
Abraço,
Dr. André Evaristo Marcondes
São Paulo, 15 de Maio de 2020
Comments