Essa história é super interessante e totalmente atípica, pois, para mim, foge da ordem natural daquilo que costumo ver no consultório. É o caso de uma paciente jovem, com cerca de 40 anos, que apresentava hérnia de disco extrusa com compreensão de raiz. Nesse quadro, o disco intervertebral apresentava bastante desgaste e o núcleo migrava para fora, em direção a outras estruturas da coluna. Em acompanhamento com outra equipe ela já tinha, inclusive, realizado um procedimento minimamente invasivo, para a retirada da hérnia.
Infelizmente, sua condição evoluiu com piora progressiva do quadro álgico, ou seja, de dor, caracterizando um cenário de dor crônica complexa e intratável, por desequilíbrio neuronal. O que significa que a lesão passou a ser do neurônio e não apenas pela compressão da raiz. Ainda sob acompanhamento de outra equipe, após longos períodos sem melhora, foi realizada a implantação de neuroestimulador medular, conhecido como chip de coluna.
Como nenhum destes tratamentos foi suficiente para tratar a dor que sentia, tão pouco para parar o avanço do problema, ela passou a fazer uso de uma quantidade cada vez maior de medicações analgésicas e sedativas.
Uma pessoa com problemas de saúde, que provocam dores ao ponto incapacitantes, tem grande chance de ser afetada psicologicamente. Isso acontece, devido aos impactos na qualidade de vida, convívio social e afetivo e pode causar profunda depressão.
Esse triste cenário também afetou a paciente, que passou a utilizar antidepressivos. Associados aos medicamentos para a dor, esses remédios tinham efeitos tão fortes que, muitas vezes, a deixavam “drogada”, com prejuízo a sua independência e até capacidade de se comunicar.
E foi nessa condição, num estado de degradação e dependência, que tive meu caminho cruzado com o dela.
Após avaliação cuidadosa do caso, para identificar os problemas que persistem após os procedimentos anteriores, optei por descompressão ampla da raiz, seguida de estabilização da coluna lombar. Dessa forma, realizei uma artrodese em dois níveis: L4/L5/S1, com o objetivo de, finalmente, trazer alívio para seus sintomas.
Esse tipo de cirurgia é considerado difícil e o resultado é percebido em longa evolução. Mas, para nossa surpresa, após seis meses de pós-operatório já era possível notar que ela tinha se tornado outra pessoa! Totalmente independente, sem a necessidade de fazer uso das medicações narcóticas e sedativas.
Foi um imenso prazer tê-la conhecido e colaborado com essa transformação. Ela também trouxe verdadeiro orgulho para nossa equipe, pois conseguiu voltar ao trabalho com atuação tão relevante, que se destacou como profissional exemplar.
Recentemente, tivemos ainda a grande notícia de que essa mesma paciente, antes desacreditada pela classe médica, atualmente realiza caminhadas de 5km e faz uso apenas de baixas doses de medicações analgésicas. Acreditamos que essa batalha esteja perto do fim, pois temos planejado a troca do neuromodulador por um tipo de eletrodo em placa, para que ela, finalmente, viva praticamente sem dor.
Marília, nossa equipe vem ressaltar todo o orgulho que sente por você, pela forma como superou com dignidade as imensas adversidades que passou. Acima de tudo, pela força de vontade que mostrou durante o tratamento, dando lugar à esperança e se propondo a colaborar para o processo de cura. Obrigado por confiar em nosso trabalho.
Nas duas primeiras imagens, de quando chegou a mim, são mostrados exames de tomografia indicando o posicionamento do eletrodo na altura adequada da coluna torácica, porém, incapaz de controlar a dor.
Já na terceira e quarta imagens, é possível observar artrodese lombar L4, L5, S1 em 360 graus, com fusão e consolidação dos dois últimos níveis da coluna, além da descompressão ampla das raízes nervosas.
Como resultado, a paciente experimentou um grande alívio dos sintomas!
Grande abraço,
Dr. André Evaristo Marcondes
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